terça-feira, outubro 11, 2005

MINHA TERRA


Parece que a rosa encerra , espinhos em profusão, para dizer que na terra, não pode haver perfeição” (Francisco Lobo da Costa)

Falar nela !!!!
Vou ter que fazê-lo e isso me custa. Eis mãe e filha que não se acertam: eu e minha cidade ! Gostaria tanto de tê-la como inspiração poética, mas nunca me ocorreu nada que não fosse a blasfêmia, os queixumes, enfim um total desacerto, advindo de uma distonia com a geografia, a paisagem, o clima, o temperamento. Qualquer coisa que me faz sentir dor, sentir-me doente ! Sempre que me afastava era com a esperança de não mais voltar.
Bem, mas não posso ser injusta, inda que filha desnaturada e, por fim hoje, desgarrada.

Uma astróloga nativa, muito competente, me disse um dia que PELOTAS (ver o site e as fotos em desfile no cabeçalho) era uma cidade canceriana, o que se torna um Karma para geminianos como eu. Ainda bem, só assim a culpa por essa aversão não é propriamente minha!
Agora, noutras plagas, já que “a vida içou as velas”, como disseram os poetas locais, devo mostrá-la com o que tem de mais belo e à distância isso demanda mais sofrimento, porquanto, também, maior clareza e discernimento...
Vamos lá, pois se não fui lisonjeira, vejam o que dizem dela seus poetas mais brilhantes:


“.... é uma bela cidade, fria e úmida, situada no fim do fundo da América do Sul, às margens da Lagoa dos Patos. Suas ruas que avançam para um norte ou um oeste aproximados, terminam no campo; as que vão para um leste ou um sul, num mesmo lento e silencioso rio. Os campos do oeste metamorfoseiam-se, aos poucos, num intrigante conjunto de morros que abriga pedras, cachoeiras e árvores frutíferas. Os campos do norte são grandes latifúndios que o asfalto das estradas federais costura. Atravessando o rio no sentido leste, chega-se ao areião de uma praia; no sentido sul, à uma planície radical”
(Vitor Ramil, músico, compositor e escritor)
(veja um texto do autor, muito interessante, sobre o povo do Rio Grande do Sul e sua identidade.)

Começo mostrando a praia do Laranjal, na Lagoa dos Patos. Linda demais e para mim o único refúgio não contaminado pela aura depressiva da cidade.






Praia do Laranjal









Kleiton e Kledir, filhos ilustres, cantaram :

LAGOA DOS PATOS
Lá no fundo da lagoa

Dorme uma saudade boa
Longe desse céu sereno
O coração pequeno
E vazio ficou
Sei que a vida içou as velas
Mas em noites belas
Sou navegador
Lá no fundo da lembrança
Dorme um resto de esperança
De voltar à vida a toa
À beira da lagoa
Só molhando o pé
Seja em Tapes, São Lourenço
Barra do Ribeiro ou Arambaré
Lagoa dos Patos
Dos sonhos, dos barcos
Mar de água doce e paixão
Ah! Essa canção singela
Eu fiz só pra ela
Não me leve a mal
Ela que é filha da lua
Que ilumina as ruas Lá do Laranjal.

Vejam o
PATRIMÔNIO HISTÓRICO:
mas apenas uma parte, pois são muitos os casarões e prédios tombados. Quase todos em estilo neo-clássico.
Destaco a Catedral do Redentor, chamada de “Igreja Cabeluda” por esse povo criativo de um humor refinado, pleno de crítica e deboche. Justiça seja feita, gente inteligente e de vanguarda é o patrimônio maior dessa região.
Sendo hoje um município pobre, com uma das menores rendas per capita do país, a conservação do patrimônio é precária. Pena, pois seria um grande motivo de orgulho.









Catedral São Frco de Paula-( Padroeiro da cidade)





Chafariz das 3 meninas. No centro
comercial. Em pleno calçadão !




Parque e museu da Baronesa







Catedral do Redentor ou IGREJA CABELUDA










Mercado público, com a torre e o relógio, sempre certo !











Banrisul













Prefeitura




Teatro 7 de abril. O mais antigo em funcionamento no Brasil. O mais antigo do estado do RS.

O POETA MAIOR :


Quero ressaltar a figura de FRANCISCO LOBO DA COSTA, ( leia um de seus lindos poemas no Jornal da Poesia chamado ADEUS) seu poeta por excelência.
Esta é a única foto disponível do autor de versos emocionantes. Um homem pobre, um paria que viveu apenas 35 anos ( 1853-1888) . Teve uma morte tão trágica e traumática, quanto o impacto e a força de sua poesia. Morreu congelado na sarjeta por embriaguês.
Leiam esse trecho da poesia em que decanta sua terra:


Na minha terra...lá
O luar banha o potreiro.
Passa cantando o tropeiro,
Cantando...sempre cantando...
Depois, descobre-se o bando
De gado que muge adiante,
E um cão ladra bem distante...
Lá... bem distante, na serra !
-Nunca foste à minha terra ?

Enfrena, pois teu cavalo,
Ferra a espora, alça o chicote,
E caminha a trote...a trote
Se não quiseres cansá—lo.
Ainda não canta o galo:
É tempo de viajares;
Deixarás estes lugares,
Irás vendo novas cenas
Sempre amenas, muito amenas !
( a poesia tem 11 estrofes)


Outro fragmento memorável: duas estrofes finais das dezesseis que compõem o poema sobre a “fome no nordeste”:


Brasil! Socorre os teus filhos,
Os esteios do porvir!
Da morte sobre os ladrilhos
Oh ! não os deixe cair!
Tu que delirante espalhas
À mãos cheias as migalhas
Desse banquete de dor,
Atira ao pobre que sofre
-As chaves desse teu cofre
De caridade e de amor.

Esmola! paz! Felicidade!
Ao desgraçado que chora...
Ceda a densa escuridade
Aos resplendores da aurora.
Luz aos pobres sertanejos
-Troquem-se as dores em beijos,
Do luto arranque-se o véu...
Irmãos, o preito é devido:
Quem socorre ao desvalido
Sobe um degrau para o céu.



Eu e RUTE nos camarins...









NA MÚSICA ERUDITA


Minha amiga de infância, RUTE FERREIRA GEBLER, é o maior expoente na música erudita. Soprano consagrada, com títulos e honrarias em todo o Brasil e fora dele, reside há mais de 30 anos em Florianópolis, onde lidera festivais e apresentações.
Sobre nossas estripulias na juventude e as dela nos palcos e avenidas da vida, estou preparando uma página inteira. Hoje vou só mencioná-la como talento local.




Aqui está ela em 2003, após um solo de Carmina Burana. Linda, brejeira, sempre de bem com a vida , tirando de letra as contingências...!!!








2 comentários:

Anônimo disse...

Visitar teu blog é como estar em casa, isso que a gente sente (em versinho para nao destoar com tanta arte). É assim que se conhecem os lugares, como vc nos faz conhecer, com a visao e o sentimento de quem relata.
Pelotas, para nós argentinos, é sempre motivo de piada pelo que a pelotas significa na sua polissemia mais conhecida que a relaciona diretamente aos testículos, entao falar "estoy en Pelotas" provoca risada e se vc diz "soy de Pelotas" dá para a gente completar com alguma pergunta tipo "grandes?" rsrs
Mas, além dessa bobagens linguìsticas mercosulinas, é extremamente agradável e interessante conhecer qualquer cantinho do Brasil de tua mao.
Beijos

Anônimo disse...

Oi!
Muito inspirador teu saudosismo em verso,prosa e lindas fotos!
Estando longe da umidade,aí nesse lugar sequinho( e bota seco ) fica mais poético e perfumado lembrar da Pricesa, não?
Penso que a Rute vai gostar muito do resgate que estás preparando da sua trajetória artística.
Parabéns,pelotenses agradecem!
Beijos!