terça-feira, outubro 25, 2005

O TEMPO E AS NOIVAS


"Em todo o caso, casai-vos. Se vos couber em sorte uma boa esposa, sereis felizes; se vos calhar uma má, tornar-vos-eis filósofos, o que é excelente para os homens"
Autor:
Sócrates



Particularmente não morro de amores por essa temática, mas meu ofício me põe em contato com ela. Há 18 anos vivo em função de escolher, programar e me inteirar, enfim, de NOIVAS e seus modelos.
Aqui não vou tratar o assunto como um capítulo à parte de minha tarefa diária, mas sim como um documentário; abertura de um arquivo com algumas noivas amigas e, principalmente as noivas de minha família.
Acho que será curioso decortinar a moda e os costumes através dos tempos, além de, obviamente, expor e homenagear essas mulheres da minha vida.


NOIVAS DA DÉCADA DE 40

Bem comportadas. Gola japonesa. Tecidos com brilho, tafetá ou cetim.
Enormes bouquets brancos, ou rosário . Todas com cauda fixa. Observa-se o mesmo padrão.



Minha tia Leda em 1944











Minha mãe em 1943






Minha tia Dayse
(chic de rosário)












NOIVAS DA DÉCADA DE 50








Tia Maria Alice (cetim brilhoso)






Minha Tia Ignês em 1954 ( minha madrinha !)

Mantilha de renda e cetim lavrado !







Minha tia Iracema (mesma mantilha de renda)













NOIVAS DA DÉCADA DE 60





Minha irmã Fernanda (3 cravos brancos) Em maio de 1967








Eu de vestido evasé e pequeno bouquet(sapatos de veludo verde) Em dezembro de 1968








NOIVAS DA DÉCADA DE 70







Minha irmã Maria Cristina (com a MESMA mantilha de renda)








Minha prima Cecília Maria em 1979 com a tal mantilha !









Na década de 80:




Minha amiga mineira Marli. Mangas bufantes (presunto)
Bouquet cacho de uva !








NOIVA ANOS 90 a 2004










Minha filha Clarissa. Maquiagem Colorida, sem véu

Minha amiga Rosemary em 2002. Também muito colorida e já o uso de pedrarias. Bouquet natural em cores fortes.

Minha amiga e afilhada Eleonora em 2004

Eu com os noivos, meus afilhados !

Singeleza, simplicidade, voltando à década de 60.

terça-feira, outubro 18, 2005

ESPAÇO FESTAS

“ Chega um dia de falta de assunto.
Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos . “ Carlos Drummond de Andrade



Profissão não se confunde com OFÍCIO. A minha profissão ficou lá atrás. Não que eu a tenha esgotado e se me cutucam capaz de brotar ainda aquele entusiasmo, aquele vigor, mas isso é um ASSUNTO e tanto !

Bem mais fácil falar de meu ofício, o qual exerço por puro “ossos do ofício”, tipo vídeo-game, atividade lúdica, mas sempre com a esperança de que um dia tome pé. Isso é um pouco contraditório, pois se chega a crescer tenho medo de que me sufoque e tome proporções que fujam do meu controle. A essas alturas é preciso, mais do que justo,ter o controle absoluto de tudo, senão...

Pois quando resolvi migrar do Sul pro Sudeste, não tive alternativa senão trazer tudo: móveis, cachorro,carro e meu trabalho: um acervo de 17 anos, patrimônio que compõem minha loja de ALUGUEL DE TRAJES. Meio caminhão de caixas que ficaram depositadas em uma peça da casa em que moro, à espera de uma decisão. Quantas vezes passei por essa peça e neguei a existência desse entulho, esperando que uma luz viesse e me desse coragem para montá-la.




Como se estivesse programado , dois meses após minha chegada, eu estava instalada há duas quadras de minha casa , na principal avenida de meu bairro, numa sala de proporções médias e com o entulho todo acomodado. Por pura superstição troquei o surrado e exausto nome de “IMPREVISTO”, para “ESPAÇO-FESTAS” , no que não fui muito feliz, pois as pessoas perguntam se eu alugo salão para eventos !



Avenida da Loja. Pista dupla repleta de flamboyants







Fachada modesta com placa feita às pressas




Cá estou, pois, pouco a pouco ficando conhecida. Como já disse, tenho medo que me descubram de supetão ! Em termos de fantasias, trajes de época, acessórios para caracterizações, tenho certeza de que sou imbatível. Já em termos de trajes finos aqui tem lojas de alto gabarito.


PONTOS ALTOS DO MEU ACERVO DE FANTASIAS :



Elvis, um orgulho !














Cigano estilizado

Mosqueteiro

Duende. Inédito !!

Árabe negro . Virado pra Meca !!

Nota: Os manequins masculinos são do ACERVO de amigos da Cláudia , que já apresentei em outra página !

Aos poucos vou reformando, modificando, conservando e usando a criatividade para evitar grandes investimentos. Tudo muito calmamente.
Tenho peças bastante raras e muito originais.
Tudo a preços módicos, pois meu bairro é de operários.

Modelo gala

Noiva

Traje de época

Dança do ventre e bruxa

MELINDROSA DE LUXO !!

KIKO DO CHAVES !

Por conta dessa atividade, tenho passado tardes muito divertidas, com minhas amigas, vizinhas queridas que estão sempre prontas para me incentivar. É uma desculpa maravilhosa para estreitar os laços e ir conhecendo esse povo simpático.

Trabalho só no turno da tarde e já é muito !

Curiosidades do ofício:

* Devido ao sotaque gaúcho, acham que sou de Portugal !! ( eu queria ser da França e ser chamada de "Madame Carmen" !)

* Como a umidade do ar gira em torno de 23% , as vizinhas passam a tarde jogando água em baldes na calçada.

*Descobri que mineiro é fissurado por água. "Baldear" é uma atividade compulsiva. Será por falta de mar ?

* As 18 horas, em ponto, cerram-se as cortinas. Esse momento é esperado com grande ansiedade. Estou, ainda, tentando entender o porquê !!

* As crianças que passam , entram. Reviram tudo, sem cerimônia; perguntam muito e, já fiz o teste, se tiver uma peruca, TODAS , colocam e riem, até as crianças tristes !

* Tirei um indicativo dessa observação: PERUCA É MATERIAL LUDOTERÁPICO, POR EXCELÊNCIA !

terça-feira, outubro 11, 2005

MINHA TERRA


Parece que a rosa encerra , espinhos em profusão, para dizer que na terra, não pode haver perfeição” (Francisco Lobo da Costa)

Falar nela !!!!
Vou ter que fazê-lo e isso me custa. Eis mãe e filha que não se acertam: eu e minha cidade ! Gostaria tanto de tê-la como inspiração poética, mas nunca me ocorreu nada que não fosse a blasfêmia, os queixumes, enfim um total desacerto, advindo de uma distonia com a geografia, a paisagem, o clima, o temperamento. Qualquer coisa que me faz sentir dor, sentir-me doente ! Sempre que me afastava era com a esperança de não mais voltar.
Bem, mas não posso ser injusta, inda que filha desnaturada e, por fim hoje, desgarrada.

Uma astróloga nativa, muito competente, me disse um dia que PELOTAS (ver o site e as fotos em desfile no cabeçalho) era uma cidade canceriana, o que se torna um Karma para geminianos como eu. Ainda bem, só assim a culpa por essa aversão não é propriamente minha!
Agora, noutras plagas, já que “a vida içou as velas”, como disseram os poetas locais, devo mostrá-la com o que tem de mais belo e à distância isso demanda mais sofrimento, porquanto, também, maior clareza e discernimento...
Vamos lá, pois se não fui lisonjeira, vejam o que dizem dela seus poetas mais brilhantes:


“.... é uma bela cidade, fria e úmida, situada no fim do fundo da América do Sul, às margens da Lagoa dos Patos. Suas ruas que avançam para um norte ou um oeste aproximados, terminam no campo; as que vão para um leste ou um sul, num mesmo lento e silencioso rio. Os campos do oeste metamorfoseiam-se, aos poucos, num intrigante conjunto de morros que abriga pedras, cachoeiras e árvores frutíferas. Os campos do norte são grandes latifúndios que o asfalto das estradas federais costura. Atravessando o rio no sentido leste, chega-se ao areião de uma praia; no sentido sul, à uma planície radical”
(Vitor Ramil, músico, compositor e escritor)
(veja um texto do autor, muito interessante, sobre o povo do Rio Grande do Sul e sua identidade.)

Começo mostrando a praia do Laranjal, na Lagoa dos Patos. Linda demais e para mim o único refúgio não contaminado pela aura depressiva da cidade.






Praia do Laranjal









Kleiton e Kledir, filhos ilustres, cantaram :

LAGOA DOS PATOS
Lá no fundo da lagoa

Dorme uma saudade boa
Longe desse céu sereno
O coração pequeno
E vazio ficou
Sei que a vida içou as velas
Mas em noites belas
Sou navegador
Lá no fundo da lembrança
Dorme um resto de esperança
De voltar à vida a toa
À beira da lagoa
Só molhando o pé
Seja em Tapes, São Lourenço
Barra do Ribeiro ou Arambaré
Lagoa dos Patos
Dos sonhos, dos barcos
Mar de água doce e paixão
Ah! Essa canção singela
Eu fiz só pra ela
Não me leve a mal
Ela que é filha da lua
Que ilumina as ruas Lá do Laranjal.

Vejam o
PATRIMÔNIO HISTÓRICO:
mas apenas uma parte, pois são muitos os casarões e prédios tombados. Quase todos em estilo neo-clássico.
Destaco a Catedral do Redentor, chamada de “Igreja Cabeluda” por esse povo criativo de um humor refinado, pleno de crítica e deboche. Justiça seja feita, gente inteligente e de vanguarda é o patrimônio maior dessa região.
Sendo hoje um município pobre, com uma das menores rendas per capita do país, a conservação do patrimônio é precária. Pena, pois seria um grande motivo de orgulho.









Catedral São Frco de Paula-( Padroeiro da cidade)





Chafariz das 3 meninas. No centro
comercial. Em pleno calçadão !




Parque e museu da Baronesa







Catedral do Redentor ou IGREJA CABELUDA










Mercado público, com a torre e o relógio, sempre certo !











Banrisul













Prefeitura




Teatro 7 de abril. O mais antigo em funcionamento no Brasil. O mais antigo do estado do RS.

O POETA MAIOR :


Quero ressaltar a figura de FRANCISCO LOBO DA COSTA, ( leia um de seus lindos poemas no Jornal da Poesia chamado ADEUS) seu poeta por excelência.
Esta é a única foto disponível do autor de versos emocionantes. Um homem pobre, um paria que viveu apenas 35 anos ( 1853-1888) . Teve uma morte tão trágica e traumática, quanto o impacto e a força de sua poesia. Morreu congelado na sarjeta por embriaguês.
Leiam esse trecho da poesia em que decanta sua terra:


Na minha terra...lá
O luar banha o potreiro.
Passa cantando o tropeiro,
Cantando...sempre cantando...
Depois, descobre-se o bando
De gado que muge adiante,
E um cão ladra bem distante...
Lá... bem distante, na serra !
-Nunca foste à minha terra ?

Enfrena, pois teu cavalo,
Ferra a espora, alça o chicote,
E caminha a trote...a trote
Se não quiseres cansá—lo.
Ainda não canta o galo:
É tempo de viajares;
Deixarás estes lugares,
Irás vendo novas cenas
Sempre amenas, muito amenas !
( a poesia tem 11 estrofes)


Outro fragmento memorável: duas estrofes finais das dezesseis que compõem o poema sobre a “fome no nordeste”:


Brasil! Socorre os teus filhos,
Os esteios do porvir!
Da morte sobre os ladrilhos
Oh ! não os deixe cair!
Tu que delirante espalhas
À mãos cheias as migalhas
Desse banquete de dor,
Atira ao pobre que sofre
-As chaves desse teu cofre
De caridade e de amor.

Esmola! paz! Felicidade!
Ao desgraçado que chora...
Ceda a densa escuridade
Aos resplendores da aurora.
Luz aos pobres sertanejos
-Troquem-se as dores em beijos,
Do luto arranque-se o véu...
Irmãos, o preito é devido:
Quem socorre ao desvalido
Sobe um degrau para o céu.



Eu e RUTE nos camarins...









NA MÚSICA ERUDITA


Minha amiga de infância, RUTE FERREIRA GEBLER, é o maior expoente na música erudita. Soprano consagrada, com títulos e honrarias em todo o Brasil e fora dele, reside há mais de 30 anos em Florianópolis, onde lidera festivais e apresentações.
Sobre nossas estripulias na juventude e as dela nos palcos e avenidas da vida, estou preparando uma página inteira. Hoje vou só mencioná-la como talento local.




Aqui está ela em 2003, após um solo de Carmina Burana. Linda, brejeira, sempre de bem com a vida , tirando de letra as contingências...!!!








terça-feira, outubro 04, 2005

ÉRAMOS O MÁXIMO !

Não sou afeita a saudosismos, mas como não registrar todo o agito das décadas de 60 e 70, quando se teve o privilégio de sobreviver a elas ?
Não se pode prescindir de imagens e sons para relembrar essa época, pois só com farta ilustração o leitor poderá tentar adentrar nesse

universo de ingenuidade, deslumbramento e hilaridade, às raias da
babaquice !



(visual dos anos 6o e 70)



(modelos de óculos)



(coque tipo BB-Brigite Bardot)









Visual montado com cabeças enormes, estaqueadas proporcionais à ignorância, à alienação e ao cerceamento das idéias e da criatividade.
Quase tudo copiado das telas do cinema americano, ditados por uma revista chamada CINELÂNDIA, leitura obrigatória e tiragem disputada.


Do Brasil, a revista O CRUZEIRO informava a moda e o que era “in” (ver acervo histórico). A postura em voga era a da “pessoa melosa”, super delicada. Até a voz era impostada a fim de parecer frágil, cortez , indefesa, ou, a bem da verdade, “abobada” ! Quanto mais aparentasse um certo retardo, mais fiel ao padrão desejado àqueles tempos; mais engajada, então.



(edição de julho de 1964)




A vida social, ainda que efervescente, era pobre de conteúdo. Com muitas reuniões, muita música, muita gente, mas o papo era irrelevante. Ativismo social exagerado, em substituição a trocas mais profundas.
Muito romance e poesia, sem a devida ressonância interna. Tudo superficial ! Tudo muito dramatizado.

Mais do que vivências significativas e construtivas, os jovens cultivavam “modelos”; as moças protagonizavam papéis de mocinhas românticas e puras, os rapazes deviam ser “rebeldes”. Verdadeiros "rebeldes sem causa".


(debutante)


(veleidades de miss: maillot e pose)








O sonho secreto das moças era ser miss. Comportar-se e vestir-se como elas. Os concursos estavam no auge (ver reportagem) e a irreverência dos trajes de banho (maiôs) era motivo de polêmica nas rodas. Horrendos modelos que desfavoreciam as pernas e a silhueta.


ROBERTO CARLOS despontava timidamente para logo em seguida estourar com a “Jovem-Guarda” (escute minha música preferida, na época, de autoria do então desconhecido Luiz Melodia)

As preocupações da juventude eram predominantemente egocêntricas, com pitadas de falsa religiosidade imposta pelas mães, visando mais o patrulhamento da sexualidade das meninas do que a inculcação de um sentido espiritual para a
vida. Conseqüentemente, as transgressões abundavam, nesse terreno.

DICA: No mesmo site, escute "OLHA", na voz do Rei. Linda até hoje !

Festas simples, mas freqüentes. Bastava uma vitrola, ou eletrola, alguns LPs de rock ou de baladas, Coca-Cola com rum ou com cachaça e a festa rolava em matinês , preferencialmente.
Ray Charles era soberano nas baladas; no rock, Beatles. Dos brasileiros, Cely Campelo, a turma de RC, mais os Vips, temperados com a leveza da bossa-nova. Quem viveu nessa época tem essa musicalidade como patrimônio sagrado.
Pessoa inserida tocava violão (arranhava, pelo menos). Como se conversava pouco, por pura falta de assunto que segurasse o papo, dançava-se muito e sempre ! Sabia-se cantar e dançar muito de tudo e o rádio era onipresente: nas salas, nas cabeceiras e nas cozinhas. (então, imprescindível !) O rádio e o cinema, eram as fontes de informação por excelência.


Nos centros maiores, obviamente as vantagens eram muitas com respeito a informação, pelo menos, pois a TV custou muito a se instalar nas cidades do interior.
Lá no sul, quase no fim do Brasil, tínhamos uma vantagem peculiar: a proximidade com o Uruguai. Todos os fins de semana saiam comboios de ônibus lotados em excursão para
Montevidéu. Um paraíso, com comidas
espetaculares, preços baixos e muito o que ver, comprar, e aprender

(Centro de Montevidéu em 1966-duas amigas e eu. Viagens rotineiras ! )

Depois, em minhas épocas de PUC, já na capital, o arsenal disponível era bem mais avantajado; mais salas de cinema com programação variada,palestras e cursos, grupos de discussão, enfim uma vida acadêmica pródiga, porém politicamente alienada.

A trilha sonora da Universidade era , segundo os meus atentos ouvidos, Chris Montez com sua vozinha infantil repetindo: “The more I see you, the more I want you” ou “ Just friends, loves no more “, ou ainda: “Time after time” .
E a gente feliz, se achando o MAXIMO ! (expressão da época)

PS: Fragmentos de poesias deixadas por "amiguinhos" no álbum para esse fim: ( não usavam dizer o autor)

"Digam de mim o que quiserem, serei sempre o que sou e nunca o que de mim disserem "

"Más facil las holas del mar besarem el firmamiento que tu nombre salir de mi pensamiento"

"Não quero tronos e impérios,

Nem piedade, meu senhor !

Quero um cantinho na terra

Para abrigar o meu amor "

"Amor é como uma seta

Lançada sem direção:

Não tem alvo, não tem meta,

Não escolhe coração"

"Dizem que os olhos não falam

Porém os teus sabem falar,

Todas as bocas se calam,

quando fala o teu olhar"